quinta-feira, 3 de maio de 2012

Se me esqueceres - Pablo Neruda


Quero que saibas uma coisa. Sabes como é: se olho a lua de cristal, o ramo vermelho do lento outono à minha janela, se toco junto do lume a impalpável cinza ou o enrugado corpo da lenha, tudo me leva para ti, como se tudo o que existe, aromas, luz, metais, fosse pequenos barcos que navegam até às tuas ilhas que me esperam.
Mas agora, se pouco a pouco me deixas de amar deixarei de te amar pouco a pouco. Se de súbito me esqueceres não me procures, porque já te terei esquecido. Se julgas que é vasto e louco o vento de bandeiras que passa pela minha vida e te resolves a deixar-me na margem do coração em que tenho raízes, pensa que nesse dia, a essa hora levantarei os braços e as minhas raízes sairão em busca de outra terra.
Porém se todos os dias, a toda a hora, te sentes destinada a mim com doçura implacável, se todos os dias uma flor uma flor te sobe aos lábios à minha procura, ai meu amor, ai minha amada, em mim todo esse fogo se repete, em mim nada se apaga nem se esquece, o meu amor alimenta-se do teu amor, e enquanto viveres estará nos teus braços sem sair dos meus. 


[Pablo Neruda]

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